Procissão dos Santos Passos

Se analisarmos a estrutura da Procissão dos Santos Passos, entre 1774 (a primeira de que temos notícia) e 1795, verificamos que se organiza de uma forma constante, excepção feita a esta última, que inclui a figura do Cireneu. A partir desta data são introduzidos, ou retirados, vários elementos, tais como a Trombeta, os Anjos, o Anjo do Amor Divino, o Cireneu, o Pretório, os Acólitos, o Santo Lenho, o 8.º Passo, o andor do Senhor da Cana Verde e os Martírios.

Na organização processional, podemos constatar a proposta fortemente didáctica apresentada pelos actores, também eles espectadores do teatro sacro, que percorriam a cidade ao longo de um percurso marcado por paragens estratégicas, onde se recriavam as cenas mais importantes da Paixão do Senhor a caminho do Gólgota.

Uma inovação importante refere-se ao aparecimento dos Martírios (ainda hoje presentes na Procissão do Enterro do Senhor) como elementos estruturantes no contexto processional já que, pela posição ocupada – logo após as tochas que se seguem à Bandeira da Irmandade, e antes das figuras centralizadoras de Maria / São João / Maria Madalena / Anjo – constituem um roteiro sumário, mas essencial, dos episódios mais marcantes da Paixão que precedem a Crucifixão de Cristo.

Por outro lado, se analisarmos a estrutura sob o ponto de vista social, e tomando como exemplo a Procissão dos Santos Passos realizada no ano de 1835, podemos constatar o seguinte. A Procissão dos Santos Passos realizada nesta data fornece-nos elementos preciosos. Assim, sabemos que, depois do Pendão, as quatro tochas cabiam a dois irmãos nobres e a dois outros irmãos, mesteres; a Primeira Bandeira era habitualmente levada pelo provedor anterior, e as tochas à bandeira, por dois nobres e dois mesteres. Relativamente a Nossa Senhora, São João e Maria Madalena, não é feita qualquer referência. O andor do Senhor dos Passos era transportado por quatro irmãos nobres, sendo as lanternas ao mesmo andor levadas por dois nobres e dois mesteres. O pálio era “costume pegar a ele dois ministros da terra, e depois destes os provedores ou secretários que tiverem servido a esta”, sendo as lanternas ao pálio levadas por dois nobres e dois mesteres. Quanto ao Santo Lenho, devia ser levado pelo Vigário Geral e, na sua falta, pelo capelão da semana. Por fim, relativamente aos sete Passos, encontramos sempre um nobre e um mester.

A primeira referência que temos sobre o percurso seguido pela procissão surge no ano de 1848. Com efeito, quando são mencionados os sete Passos, apontam-se os locais, com indicações precisas: o Primeiro Passo (do Horto) que sairia da igreja da Misericórdia, sendo os restantes, pela sequência: Segundo Passo, no Hospital (Novo); Terceiro Passo, no Hospital Velho; Quarto Passo, na Praça; Quinto Passo, na Ferraria; Sexto Passo, no Cabo da Vila; e Sétimo Passo, no Calvário. No ano de 1850, os locais são os mesmos, especificando-se que o Sexto Passo seria na Cruz do Cabo de Vila. Em 1851 e 1852, surge uma alteração com a introdução de mais um passo (o oitavo), mas em 1864, com a redução do Oitavo Passo, a procissão faz um percurso mais pequeno. A partir de 1865, não são mencionados os Passos.

 

 

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